R.I.P. – descanse em paz. Coluna Carlos Brickmann
R.I.P. – descanse em paz
Coluna Carlos Brickmann
(Edição dos jornais de Domingo, 05 de fevereiro de 2017)
É difícil velar uma pessoa que ainda não morreu. É difícil velar a mãe de um partido político que, de certa forma, se transformou em religião. É difícil velar uma pessoa que, mesmo apenas por questão de parentesco com os adversários, se identificou a vida inteira como inimiga.
Mas não é difícil ser educado, comportar-se respeitosamente num momento solene, como é um funeral. Isso vale para todos: para os alucinados que querem festejar a morte de uma adversária; e para os fanáticos que se acham politizados e tentam jogar nos rivais a culpa de um acidente vascular-cerebral cujas causas, ao que se saiba, são absolutamente naturais. Ambos os grupos têm uma providência urgente a tomar: envergonhar-se do que fazem e fizeram.
Fernando Henrique, a quem Lula sempre tratou como seu maior adversário, foi abraçá-lo e dar-lhe solidariedade (como Lula fez quando morreu Ruth Cardoso, esposa de Fernando Henrique, e ele levou ao viúvo suas palavras de conforto). Michel Temer, essencial para o afastamento do PT do poder, deu seu abraço em Lula. Sarney se solidarizou com o adversário. Lula já liderou movimentos Fora Sarney, Fora FHC, Fora Temer; mas isso é política. Já abraço é solidariedade. Não é coisa de profissionais do poder, é coisa de gente.
Respeito humano: isso é o que todos devemos a Marisa Letícia Lula da Silva, a seu marido, a seus filhos, a seus adeptos. Há tempo de brigar, há tempo de comportar-se como gente. Descanse em paz, Marisa Letícia.
Palavras de sabedoria
Está no Eclesiastes, livro bíblico atribuído ao rei Salomão: “Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos ao pó voltarão”.
O sentido da expressão
O R.I.P. do título vem de Requiescat in Pace, Repouse em Paz. É um direito que todos os povos, de todas as religiões, garantem a seus mortos.
Por baixo dos panos
Enquanto nos preocupamos com questões de vida e de morte, a politicazinha continua comendo solta. O secretário de Parcerias de Investimentos do Governo Federal, Wellington Moreira Franco – conforme o grau de amizade, há quem o chame de Gato Triste, Gato Angorá ou, quando se trata de um amigão, simplesmente o Gato – andou sendo citado justamente como O Gato numa das delações premiadas da Odebrecht.
Quem tem amigos não morre pagão: o presidente Temer transformou uma Secretaria Geral em cargo privativo de ministro e ali alojou Moreira Franco – que, além de ser um dos políticos mais próximos do presidente, é também sogro do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Agora que é ministro, o Gato Triste passou a ter foro privilegiado, e só precisará viajar a Curitiba para desempenhar as funções de sua pasta, sem qualquer obrigação de visitar o juiz Sérgio Moro. Moreira Franco diz que seu caso é diferente da nomeação de Lula para um ministério de Dilma: ele já fazia parte do Governo e foi apenas remanejado. Dizem também que já exercia o papel de ministro e só faltava nomeá-lo. Então, tá.
Briga no Supremo
O senador Randolfe Rodrigues acha que a nomeação de Moreira Franco é ilegal, tanto quanto foi ilegal a de Lula, no finalzinho do Governo Dilma. Na sexta à tarde, entrou com ação na Justiça Federal do Amapá para anulá-la. “O caso”, diz o senador, “é um escárnio às instituições da República, vai contra os princípios da moralidade e atinge o Estado Democrático de Direito.”
Os grandes acertos
O Congresso em ação: o PT, embora acuse o presidente da República de golpista, embora o chame de “presidente interino”, negociou o apoio a Eunício Oliveira, amigo de fé e irmão camarada de Temer, para presidente da Mesa do Senado. Em troca de seus votos, conseguiu colocar o senador José Pimentel, do PT piauiense, na primeira secretaria. Neste posto estratégico, Pimentel tem à disposição 70 cargos de livre provimento para abrigar a “cumpanherada”.
Nada foi definido ainda, mas há fortes rumores de que Gilberto Carvalho, que foi secretário-geral da Presidência no Governo Dilma, assumirá a presidência do Interlegis, programa de modernização e integração do Poder Legislativo Brasileiro. É mais do que um bom emprego: dá poder.
…é vendaval
Falta dinheiro? Funde um partido: neste finzinho de janeiro, o Fundo Partidário pagou R$ 58,5 milhões aos 35 partidos políticos com registro definitivo no Tribunal Superior Eleitoral. Quem recebeu a maior parte foi o PT, R$ 7.866.826,90. Seguem-se o PMDB, com R$ 6.453.403,47, e o PSDB, com R$ 6.453.403,47. E de onde vem o Fundo Partidário? Multas, doações, recursos financeiros destinados por lei, dotações orçamentárias da União “nunca inferiores ao número de eleitores inscritos, multiplicados por R$ 0,35”.
Ou seja, a principal fonte do tal Fundo Partidário é o velho e bom Tesouro. Em outras palavras, o seu, o meu, o nosso dinheiro dado a partidos que não são os que queremos e para eleger parlamentares que não teriam nosso voto.
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