Faz-me rir, novamente? Coluna Mário Marinho
Faz-me rir, novamente?
COLUNA MÁRIO MARINHO
O doutor Walder Agmont é um brilhante advogado.
Nos seus áureos tempos de jogador de futebol amador, nos anos 70, foi apelidado de Afonsinho, hoje um médico, mas, naquela época excelente meia armador, clássico, calmo, com ótima visão de jogo. Afonso Celso Garcia dos Reis foi revelado pelo XV de Jaú-SP em 1963 e teve o auge da carreira no Botafogo, de 1966 a 1970. As ainda brilhou em outros times como Santos e Flamengo.
Doutor Walder carregou o apelido de Afonsinho que, mais do que um apelido, era um elogio.
Além dessas qualidades, doutor Walder é também corintiano.
Neste último domingo, ao terminarmos uma disputada partida de tênis no Continental Parque Clube e antes da necessária e revigorante cerveja, notei o semblante preocupado do meu amigo Afonsinho.
– O que está havendo? Problemas?
– Mário, tô preocupado com o Corinthians. O time já não era nada bom no ano passado. E agora, com essas contratações, onde a gente vai parar?
Fustiguei o nobre causídico?
– Com medo do “Faz-me rir?”
– Pelo amor de Deus! Será que vamos chegar a esse ponto?
Para que não se lembra ou não conhece o caso, “Faz-me rir” foi o título de um meloso e dramático bolero gravado por Edith Veiga, sucesso em 1961.
O que isso tem a ver com o Corinthians?
Antes de continuar a história, ouça Edith Veiga:
Pois bem.
Em 1961 o Corinthians já caminhava para sete anos sem conquistar o título paulista.
Assumiu a presidência do Clube Wadih Helou, advogado e mais tarde político de certa importância em São Paulo. Assumiu e prometeu montar um Timão para acabar com o Tabu.
Antes da eleição de Wadih, o Corinthians, em seu primeiro jogo do ano, no em 04-01-1961, perdeu para o Flamengo por 2 a 1, numa quarta-feira, no Pacaembu. O time, dirigido pelo técnico João Lima, foi este: Gilmar, Egídio, Olavo e Ari Clemente; Benedito e Oreco; Lanzoninho, Almir, Joaquinzinho, Rafael (Lopes) e Felício.
Com a posse de Wadih Helou, o técnico João Lima pediu demissão. Sua carreira corintiana limitou-se a 15 jogos (6 vitórias, 1 empate e 8 derrotas). Assumiu em seu lugar Alfredo Ramos, ex-zagueiro do próprio Corinthians e que dirigiu por 43 jogos (22 vitórias, 10 empates, 11 derrotas).
Vieram as primeiras contratações prometidas por Wadih Helou para transformar o time em Timão: o meia Manoelzinho, o ponta-direita Espanhol, os atacantes Beirute e Adilson, todos do carioca Flamengo.
Todos longe, muito longe de serem a grande solução.
Enquanto Edith Veiga fazia sucesso com o “Faz-me rir” o corintiano era zoado pelos adversários.
Em seu jogo de estreia, o técnico Alfredo Ramos conseguiu um ótimo resultado: empate em 3 a 3 com o Palmeiras, partida válida pelo Rio-São Paulo.
O time foi este: Cabeção, Jaime, Walmir e Ari Clemente; Sidnei e Oreco; Bataglia (Zague), Joaquinzinho (Paulinho), Miranda, Rafael e Neves.
No Campeonato Paulista daquele ano, o Corinthians ia de mão a pior. Ao final do primeiro turno, estava em 10º lugar. Houve ligeira recuperação e terminou em 6º lugar empatado com o Guarani de Campinas.
Depois de perder para a Esportiva de Guaratinguetá, 3 a 0, e empatar com Botafogo (Ribeirão Preto) em 2 a 2, o técnico Alfredo Ramos caiu. Era o mês de julho de 1961.
Para o seu lugar, veio o estrategista Martin Francisco.
Em seu sexto jogo pelo Paulistão, Martin viu o Corinthians ser derrotado pelo Comercial (Ribeirão Preto) por 3 a 2.
O time foi este: Aldo, Jaime , Ari Clemente e Walmir; Da Silva e Oreco; Joaquinzinho, Manoelzinho, Beirute, Rafael e Neves.
Edith Veiga continuava com seu sucesso: Faz-me rir.
Como tudo que está ruim pode piorar, como assegura a Lei Murphy, na reta final daquele Paulistão o Corinthians foi impiedosamente goleado pela Portuguesa de Desportos: 7 a 0.
O time foi este: Aldo, Jaime, Walmir e Augusto; Da Silva e Oreco; Espanhol, Adilson, Beirute, Rafael e Neves. O técnico ainda era Martin Francisco.
Definitivamente, 1961 não foi um ano corintiano.
Antes do final do ano, o presidente Wadih Helou brigou com o goleiro Gilmar que acabou indo para o Santos, onde se consagraria bicampeão Mundial de Clubes e Seleção. Parou de jogar em 1969 e morreu em 2013.
O Corinthians continuou contratando jogadores e mais jogadores para acabar com o maldito tabu que só caiu mesmo em 1977. Foram quase 23 anos sem o título de campeão paulista.
FOTO ABERTURA: Uma das formações do Corinthians em 1961 no Pacaembu. Em pé: Aldo, Augusto, Oreco, Ari Clemente, Walmir e Gonçalves. Agachados: Espanhol, Adílson, Beirute, Rafael e Neves.
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Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em livros do setor esportivo
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
Ai, ai, ai Mario……….acompanhei de perto o primeiro faz-me-rir. Naquele tempo eu morava na rua Siria 277, paralela à São Jorge. Eu entrava de graça na Fazendinha e vi o Corinthians apanhar de quase todo mundo lá. Também vi o Santos de Pelé jogar na mesma Fazendinha e ganhar só de 2 x 1 da gente. Voltando aos dias de hoje, esta diretoria – diretoria???) me parece que é pior, muito pior do que aquela daqueles tempos!! É só burrada atrás de burrada, caramba!!!
Vou parando por aqui deixando um abração para vc e parabéns por esta crônica e também pelas outras que vc sempre escreve.
Meu caro Armando,
Você tem razão. Talvez a Diretoria de hoje merecesse outra música:
“Quero chorar, não tenho lágrimas…”
Sucesso de Nat King Cole.
https://youtu.be/dzsjkC36Zx0
Walder Agmont Silva brilhante advogado?! kkkkkkkkkk