O farto dinheiro do futebol. Coluna Mário Marinho
O farto dinheiro do futebol
COLUNA MÁRIO MARINHO
Na segunda metade dos anos 1990, eu era presidente da Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo, a Aceesp, e tive a oportunidade de realizar um curso de marketing esportivo que teve a duração de cerca de três meses, quase uma centena de participantes e palestrantes de renome.
Um deles foi o advogado Heraldo Panhoca.
Panhoca foi um dos redatores da Lei Pelé que regulamentou o esporte brasileiro com uma série de medidas inovadoras, inclusive publicidade nas camisas.
Lembro-me que em uma das palestras do competente Panhoca, um dos assistentes o questionou dizendo que as camisas dos times, com a possibilidade de receber mais de um patrocinador, poderiam perder sua característica.
Panhoca respondeu.
– Eu acho que não. Antes de mais nada, o dinheiro é sempre bem vindo a qualquer negócio e, portanto, também ao futebol. Com dinheiro, os times podem ser mais profissionais, pagar melhores salários, oferecer melhores acomodações ao torcedor. Ou seja: melhorar o espetáculo.
Heraldo Panhoca terminou com profética afirmação:
– Seria muito bom para o profissionalismo se os uniformes tivessem tantos anúncios quanto têm os uniformes dos pilotos de Fórmula 1 que todos gostam.
Hoje os uniformes dos nossos times de futebol são quase tão loteados quanto os pilotos de Fórmula 1. Vendem-se espaços por centímetros no peito, nas costas, nas mangas das camisas e até aqueles que ficam ridículos nas bundas dos jogadores.
Mas, enfim, não deveria faltar dinheiro para que o nosso futebol pudesse manter por aqui nossos jovens craques que, ainda cheirando a cueiro, se mandam para o Eldorado da Europa.
No quadro abaixo, o quanto recebem os clubes brasileiros hoje somente com o chamado patrocínio master, aquele principal no peito dos jogadores Os números estão em milhões de reais e foram publicados pelo Esporte Interativo.
Para 2017 há forte tendência de que as entidades financeiras vão tomar conta dos patrocínios.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, Grêmio e Internacional continuarão sob contrato do Banrisul, cada um com o valor de R$ 13 milhões anuais. Nesse caso, é política do banco, que é do estado, patrocinar os dois rivais para não ficar mal com nenhum dos dois torcedores.
No passado, já tivemos exemplos assim.
Em 1987, a Coca-Cola patrocinou os 16 times da Copa União. Em Belo Horizonte, houve ano em que o falecido Banco Nacional patrocinou Atlético e Cruzeiro também para não desagradar fanáticos torcedores.
Este ano de 2017, a Caixa deverá patrocinar a grande maioria dos 20 times da Elite.
Flamengo e Corinthians, donos das maiores torcidas brasileiras, receberão a maior fatia: R$ 25 milhões para o carioca e R$ 30 milhões para o Timão que, a despeito de ser o segundo colocado em termos de torcida, tem maior presença na mídia.
No ano passado, a Caixa chegou a fazer contratos pontuais com alguns times. Foi o caso do Santos que recebeu R$ 2 milhões por contrato para os meses de outubro, novembro e dezembro. Nesse mesmo período, a Caixa pagou R$ 1 milhão ao Fluminense e R$ 1,4 ao Botafogo.
A camisa do Palmeiras deverá ser a de maior valor em 2017.
No quadro acima, está o valor de R$ 23 milhões pago pela Crefisa (o patrocínio era maior pois envolvia até o pagamento de salário de alguns jogadores).
Para este ano, a Crefisa vai investir mais no Campeão Brasileiro, mas dividirá a camisa com a FAM, que pertence ao mesmo grupo.
O São Paulo anunciou que terá sua camisa patrocinada pelo Banco Intermedium, mas os valores não foram divulgados.
Nas cotas menores da Caixa, aparecem Atlético-PR e Coritiba (R$ 6 milhões cada), Sport (R$ 6 milhões), Vitória (R$ 6 milhões) e Chapecoense (R$ 4 milhões).
Entre os que subiram da Série B, Avaí, Bahia e Atlético-GO também possuem o logo da Caixa nos uniformes. A Ponte Preta é outra que negocia com o banco. Caso o martelo seja batido, a “Macaca” será o 17º clube patrocinado pelo banco no Brasileirão.
Somando todos os patrocínios (Caixa, Banrisul, Banco Intermedium e Crefisa), calcula-se que os bancos e instituições financeiras investirão aproximadamente R$ 250 milhões nos times da Série A do Campeonato Brasileiro em 2017 – 53% disso só da Caixa.
De
Volta
Esta é a primeira coluna que escrevo neste ano de Cristo de 2017 que, espero e desejo para todos, seja bem mais leve que o paquidérmico 2016.
No ano passado, compareci aqui 107 vezes. Espero repetir a dose. Ou, quem sabe, até estreitar mais esse nosso relacionamento.
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Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em livros do setor esportivo
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)