Eles mordem o que podem e o que não podem. Por Josué Machado
ELES MORDEM O QUE PODEM E NÃO PODEM
Por Josué Machado
Sempre na defesa dos interesses do povo, muitos políticos e partidos têm rumo e opiniões tão firmes quanto nuvens ao sabor da bri$a.
Por que será que os donos ou patronos de certas quadrilh, isto é, partidos, se eternizam no cargo? Dedicação aos ideais partidários e amor ao povo, responderão eles veementes.
O Partido Verde, por exemplo, foi abençoado com a ventura de ter José Luiz de França Penna como líder máximo desde a inocência de Adão e Eva no verdejante Éden – daí Partido Verde.
IDEOLOGIA
Pois é tão rico o leque ideológico abrangido pelos partidos que um deles, o Partido Social Democrático (PSD), criado pelo ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro de Dilma e agora ministro de Temer, Gilberto Kassab, carrega a inusitada definição de não ser “nem de centro, nem de direita nem de esquerda”, como o classificou seu próprio criador até com certo compreensível orgulho.
Porque não há notícia de fenômeno assim em todo o Universo. Talvez não seja nem a favor nem contra, nem do princípio nem do fim. Sabedeus. Coisa de inspirador experiente, porque Kassab já foi do PL, do PFL e do DEM antes de criar o caleidoscópico PSD com sua prodigiosa capacidade de mutação.
Por isso Kassab e seu partido parecem ter a capacidade de amoldar-se ao poder, qualquer poder, de qualquer tom ou bandeira, com tão espantosa facilidade.
Unem-se ao poder até que esse poder estremeça; então passam a ser contra o poder oscilante e, num pequeno e gracioso salto acrobático, aderem ao poder emergente.
E assim por diante até o infinito, se houver infinito.
Um peemedebezinho mais ágil e moderno, perito em defecções proveitosas, como se viu na queda da presidentA.
NO ESCURINHO
De volta à essência dos respeitáveis partidos nacionais, a maioria de seus líderes circula em carros de luxo e tem vida coincidentemente de luxo.
Tanto que um dos partidos, o Pros, recebeu no ano passado R$ 595 mil do fundo partidário. Já havia comprado em dezembro de 2014 um avião bimotor modelo EM-810D com capacidade para cinco passageiros por R$ 400 mil, segundo O Globo.
É justo: como voar por aí em voos de carreira de segunda classe, a tal classe turística popular, se há tanta coisa a fazer em tão grande território e chegar ao destino bem disposto e pronto para as tarefas nacionais, se não com avião próprio?
Bem pensado.
QUESTÃO DE FÉ
De todo modo, se um partido meia-boca como o Pros se deu esse pequeno luxo com seu Aero-Prós – imitação do Aero-Lula –, algumas pessoas de pouca fé na humanidade ficarão pensando no que será que fazem no escurinho do cinema partidões como o ascendente e limpinho PMDB, o cadente e limpinho PT, o flutuante e limpinho PSDB, e o limpinho DEM, de Democratas (belo nome!).
Embora devastados pelas estridentes denúncias do pessoal da Odebrecht, cujos efeitos trabalham para anular, os gerentes partidários fazem e farão o que continuam fazendo, já se sabe.
Mesmo a partir das últimas eleições, nas quais o STF proibiu empresas de financiar “campanhas” dos partidos, há quem desconfie de que vão continuar agindo nas trevas. Como sempre fizeram, aliás, ao lado das “contribuições” oficiais.
Mas como controlar as incessantes “doações” subterrâneas, empréstimo de jatos, mimos variados e outras mumunhas? E se alguém quiser pagar milhões por palestras inspiradas aki e alhures?
Haja criatividade. E haverá muita, sempre.
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Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.