Temer, Corinthians e vídeo arbitragem. Coluna Mário Marinho
Temer, Corinthians e vídeo arbitragem
Coluna Mário Marinho
Visto assim meio rapidamente, o título acima não faz muito sentido.
Afinal, qual a ligação existe entre seus elementos?
Elementar meu caro Watson, diria do alto de sua sabedoria o esperto Sherlock Holmes.
Os três elementos, cada um em sua categoria, deveriam servir para administrar, dirimir problemas, trazer tranquilidade.
Mas, eles agem exatamente ao contrário.
Temer recebeu de graça a presidência da República. Eleito duas vezes pelos petistas que hoje o atacam, Temer se propôs construir uma ponte para o futuro. Logo logo a tal ponte se revelou uma pinguela como bem a denominou o ex-presidente FHC.
O sim e o não do presidente atual têm a firmeza de um prego na areia.
O que ele diz que não faz pode se materializar minutos depois, assim como o não pode se transformar num sorridente sim.
Um manhoso político de Brasília – e eles são muitos – disse que descobriu a fórmula de conseguir decisão duradoura do presidente Temer: “Eu procuro falar com ele quase na hora de dormir, assim, a decisão dele dura pelo menos até à manhã seguinte.”
O presidente do Corinthians, Roberto de Andrade, parece ter no presidente da República, seu espelho e seu norte.
Quando da saída de Tite para a Seleção Brasileira e do quase total desmanche do time que brilhou com Tite, Andrade trouxe para técnico do Corinthians Cristóvão Borges que tem imaculado perfil para quem está procurando um genro.
Já como técnico de futebol, Cristóvão deixa muito a desejar.
O fato de Borges nunca ter ganhado um título como técnico não pareceu impressionar o mandatário alvinegro.
Já uma pesquisa da ESPN que ouviu perto de oito mil torcedores, mostrou que 62% eram contra; somente 38% ficaram a favor.
Deu no que deu.
Menos de três meses depois, Cristóvão Borges caiu. Seus números foram muito ruins: 18 jogos, 7 vitórias, 5 empates, 6 derrotas. Marcou 23 gols e sofreu 20.
Roberto de Andrade convocou entrevista coletiva e anunciou, cheio de pompa e circunstância:
– O novo técnico é Fábio Carrile, que ficará até o fim do ano.
Assim, assumiu o auxiliar técnico já com o final do trabalho previsto, como se fosse um apena: ficará preso por tantos anos…
A um repórter que perguntou sobre outro técnico, Andrade reagiu soberano e indignado:
– O novo técnico é Fábio Carrile!
Não passou pela cabeça do presidente que o final da temporada estava próximo, mas ainda havia a vaga da Libertadores em jogo. E mais: era momento de um técnico definitivo, já pensando na temporada de 2017.
Planejar três meses à frente, nem pensar?
Cansada de ser acusada de conservadorismo, a Fifa resolveu dar um passo à frente e introduzir os recursos da informática na tão combalida arbitragem do futebol.
Anunciou testes no ano passado e a aplicação do novo sistema já no mundial de clube recém vencido pelo Real Madri.
O que se viu na prática foi uma tremenda lambança.
Há um entendimento básico no futebol que o juiz pode mudar a sua decisão desde que o jogo não tenha sido recomeçado Ou seja: se ele marca um pênalti e depois é alertado pelo bandeirinha que a falta foi cometida fora da área, ele não só pode mudar, mas, como deve mudar.
Esse salutar entendimento foi para o beleléu no Mundial de Clubes.
Em três ocasiões aprontou-se a maior confusão. Relembrando Chacrinha, o novo sistema não veio para esclarecer, veio para confundir.
No jogo em que o japonês Kahima derrotou o nosso colombiano Atlético Nacional, aconteceu uma jogada na área colombiana e, quase dois minutos depois, o árbitro foi alertado de que o vídeo mostrava um pênalti a favor dos japoneses. Houve um pênalti, mas houve também um impedimento que não foi apontado; se impedimento tivesse sido marcado, não aconteceria o pênalti.
Na vitória do Real sobre o mexicano América, Cristiano Ronaldo fez o que sabe muito bem fazer: gol. O juiz validou imediatamente, mas o ponto eletrônico o alertou de um impedimento que fez com que o gol fosse anulado. A partida recomeçou mas o arbitro volta a ser alertado e, agora, confirma o gol.
Bizarro, para dizer o mínimo.
No jogo do Atlético Nacional contra o América, na disputa pelo terceiro lugar, há um claro pênalti a favor do Atlético que o vídeo-juiz não aponta.
E agora? Será que a torcida vai gritar “vídeo ladrão!”
Ou vai mandar a Fifa à pinguela que caiu?
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Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em livros do setor esportivo
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