Ah!, se desse certo! Coluna Mário Marinho
Ah!, se desse certo!
COLUNA MÁRIO MARINHO
Seria sem dúvida alguma a maior homenagem que se poderia prestar às vítimas da tragédia da Chapecoense. Jogadores, técnicos, comissão técnica, jornalistas dirigentes certamente se sentiriam gratificados se a homenagem que ocorreu neste domingo (4-12), em frente ao Pacaembu, se estendesse pelos campos brasileiros.
Representantes das torcidas do Corinthians (Gaviões da Fiel), Palmeiras (Mancha Verde), Santos (Torcida Jovem) e São Paulo (Independente) se reuniram na bela Praça Charles Muller, deram-se as mãos e rezaram pelas vítimas.
Ficaram bons momentos juntos: ninguém se agrediu, ninguém se mordeu, se estapeou ou se socou. Foram momentos de bela harmonia, de ambiente de paz, de solidariedade.
Esse e o verdadeiro espírito do futebol. Ou pelo menos é o que se espera dele.
Mas, até quando vai durar?
A difícil arte de falar sobre os mortos
É muito difícil encontrar palavras certas – se é que elas existem – para tentar consolar alguém que acaba de perder pessoa querida.
Esse momento torna-se ainda mais delicado quando se trata de uma tragédia.
Mais difícil, ainda, é para o jornalista que precisa entrevistar pessoas nessa situação.
Aliás, antes de tudo: deve-se entrevistar pessoas enlutadas?
Como jornalista experiente e que já passou por situações assim, eu afirmo que a missão do jornalista é entrevistar. Mas é preciso saber entrevistar.
Aliás, para qualquer tipo de entrevista, é preciso saber o que está fazendo.
Regra básica
Há um princípio que não pode ser desrespeitado: a pessoa pode não querer dar entrevista. Esse é um direito sagrado que precisa ser respeitado acima de tudo.
Nós jornalistas temos fama de sermos abutres farejando notícias ruins. Às vezes, fazemos jus à fama, colocando microfones na boca de quem não quer falar, empurrando, gritando enfim, desrespeitando.
Já vi cenas absurdas.
No dia 11 de julho de 1973 caiu um Boeing da Varig a quatro quilômetros do aeroporto de Orly, em Paris, causando a morte de todos os seus 134 ocupantes.
Eu estava em casa assistindo televisão quando a programação foi interrompida com o jornalismo informando a notícia e já anunciando um repórter na casa do cantor Agostinho dos Santos, uma das vítimas.
A imagem na tela mostrou um jovem repórter ao lado de uma mocinha de seus 13-14 anos. A pergunta dele foi rápida:
– Você sabe o que aconteceu com seu pai?
– Não. O que foi?
– O avião que ele estava caiu em Paris. Morreram todos os passageiros.
A menina arregalou os olhos e saiu gritando:
– Mãe, mãe, o moço tá dizendo que papai morreu…
Terrível infelicidade do repórter.
Outra tragédia
No dia 2 de março de 1996, a banda “Mamonas Assassinas” foi vitima de um acidente aéreo. Morreram todos os seus integrantes quando o avião, que já estava em procedimento de pouso no aeroporto de Guarulhos, caiu.
Foi terrível a comoção, pois, a banda era formada por jovens alegres que faziam imenso sucesso no Brasil todo.
No dia seguinte, domingo, o SBT levava ao ar o programa do Gugu. O apresentador chamou sua reportagem diretamente da casa do mais famoso dos integrantes da banda, o vocalista Dinho.
A imagem mostra um jovem repórter à frente de um senhor com semblante bastante abatido. O repórter entra no ar.
– Estamos ao vivo aqui no portão da casa do Dinho e vamos falar com o tio dele. Boa tarde, meu senhor. Tudo bem?
– Como pode estar tudo bem num momento como esse? Perguntou o irritado senhor que virou as costas e bateu o portão.
Nos dois casos, total falta de experiência do repórter.
Hoje em dia já não acontece isso porque as equipes de reportagem das emissoras das televisões estão sempre acompanhadas de um produtor que prepara a entrevista e evita esse tipo de mal estar.
Mas, por que o repórter deve entrevistar?
Simplesmente porque o entrevistado pode querer prestar sua homenagem à pessoa falecida, falar sobre ela, sobre seus últimos momentos, dar informações.
Mas, o princípio básico é este: ninguém é obrigado a dar entrevistas.
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Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em livros do setor esportivo
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
Perfeito. Passei por uma experiência semelhante no começo dos anos 80, quando o avião da Varig caiu no Ceará… Antes de saber se havia sobreviventes, um repórter idiita da Jovem Pan leu toda a lista dos passageiros e dos tripulantes. Na relação, a mulher do meu vizinho, de muro….
O rapaz correu até mim pra perguntar se eu sabia de alguma coisa… Liguei pra Pan e falei com o saudoso Vieira de Mello, o capo da emissora. Ele defendeu o repórter, fiquei puto, cai de pau na emissora em uma coluna que eu escrevia pra “Folha”… A emissora passou dias e dias a expor um editorial contra mil, lido por um constrangido Joseval Peixoto, meu amigo. Apenas na Copa de 94, quando nos cruzamos nos EUA, o Vieira de Mello se desculpou…
Infelizmente, a mulher do meu vizinho morreu. E ele, traumatizado ao saber da extensão do acidente pelo rádio, gastou muito tempo com psicanalistas e jamais se casou de novo.
Putabraços.
Sílvio Lancellotti
simples assim: falou pouco e muito bem falado. Não há muito que dizer num momento como esse….
Bjs,
Maria Helena