Cacalo mira bem, com sua temível caneta vermelha
Quando se lembram de que jornalismo é investigação, apuração, é sempre duvidar do que as autoridades informam, vem coisa de qualidade. O exemplo é a matéria no O Estado de S. Paulo (dia 24, pg. A21) sobre o brutal aumento no valor das obras da Linha 5-Lilás do Metrô paulistano. Leia o que alegam os diretores do Metrô e o contraponto do presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Metrô de São Paulo e descobrirá por que nosso dinheiro vai, literalmente, pelo buraco.
Não aponto só coisas ruins na imprensa, tem as boas também. Mais abaixo, no Blog do Ancelmo (dia 24), mais uma demonstração de como não respeitam a nossa grana.
( CACALO KFOURI*)
No G1
Um carro perdeu o controle e atropelou três pessoas em um ponto de ônibus na manhã deste sábado (21),
Se carros perdessem o controle deveriam ser levados ao psiquiatra e não à oficina. Carro fica “sem controle”, “descontrolado”. Quem perde o controle é o motorista.
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Na TV
A Globo, no Jornal Nacional do dia 19, pediu desculpas ao governador de Minas por ter retirado uma palavra de uma declaração dele, o que modificou totalmente o sentido do que disse. Atenção, escribas, uma palavrinha retirada, uma vírgula mal colocada, e o sentido original vai pro brejo. O jornal demorou dois dias para se corrigir. Mas é melhor do que nada.
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No Estadão
Preso suspeito de matar empresário em ‘saidinha de banco’
(…) acusado confessou participação no ataque e revelou nome dos comparsas
Bom, se confessou por que é tratado com suspeito?
Um suspeito de participar do assassinato do empresário (…), de 68 anos, morto durante uma “saidinha de banco”, em Moema, na zona sul, foi preso pela Polícia Civil.
Insisto: se confessou, por que suspeito?
Outros (XXX)(*) (D) dois comparsas, entre eles um universitário, foram identificados e estão foragidos.
(*) Se há “outros dois comparsas, isso significa que o “suspeito” é comparsa dele mesmo, pois não?
(…)
Segundo a polícia, imagens de câmeras de segurança mostram que o suspeito (???) preso, (…), de 27 anos, ficou andando a pé e de moto nas imediações do banco antes de o empresário chegar. O ladrão (por que ladrão, não é “suspeito”?), quando estava de moto, era sempre seguido por um Santa Fé preto.
Os bandidos (bandidos? Não são suspeitos?) fugiram sem levar nada.
(…). No dia seguinte ao roubo,o suspeito (resolvam, por favor: é suspeito, ladrão ou bandido?) telefonou para a Polícia Militar e registrou que sua moto havia sido furtada.(…). Mas foi graças ao telefonema à PM que os policiais localizaram o suspeito (??? O cara tem múltipla personalidade, só pode ser isso).
Na delegacia, o suspeito confessou(e continua suspeito???) que participou no crime e revelou o nome dos demais comparsas (??? pergunto de novo, é comparsa dele mesmo?). (…) foi baleado porque teria(o delegado diz que tentou, não que teria) tentado fugir dos bandidos (bandidos ou suspeitos?).
Terminada a leitura, não sei se o cara é.
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No Blog do Ancelmo
Ministro da Comunicação sugere intervenção na Agência Brasil, teoricamente livre
O ministro da Comunicação, Edinho Silva, chamou todos os assessores da Esplanada para uma reunião, sexta. Anunciou que, a partir de agora, tudo terá de ser centralizado e filtrado pelo Planalto. Só que…
Sabe a Agência Brasil, criada para ser como a britânica BBC e, apesar de custeada pela União, fazer um jornalismo livre? O governo acha que ela deveria servir mais como uma divulgadora das ações do governo. Edinho disse que isso “está sendo resolvido”.
Em vez de melhorar a atuação, o governo transforma a agência em assessoria de imprensa para tentar tapar o sol com peneira, com o meu, o seu, o nosso dinheiro, como costuma escrever Ancelmo. E quem está sendo transferido do Planalto para lá a fim de consumar o aparelhamento ganha salários muito acima dos de mercado.
No Observatório da Imprensa
IMPRENSA EM QUESTÃO – Suplementos culturais
A mediocridade como modelo editorial
Sou leitor assíduo de jornais faz quatro anos. Sempre ouço que antigamente os noticiosos eram diferentes (…).
Alguns jornais internacionais com folhetos sobre cultura possuem maior profundidade.
No crédito está que o autor é estudante… Viu no que deu ser leitor assíduo? Além de assíduo, tem de ser crítico, já desaprendeu o sentido de possuir.
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Mirando a esmo
Na Folha: A destruição do rio Doce e o surto de microcefalia no NE mostram a crueldade da administração pública
No Estadão: Falta produto que mata larva do mosquito da dengue
Ministério da Saúde não tem insumo suficiente para distribuição;
Aedes também é o vetor da zika, suspeita por surto de microcefalia
Como se pode ver, por aqui a gente perde a esperança antes de começar a ter. A situação agravou-se a partir de 1998 e vem piorando. E, como as autoridades, em todos os níveis de governo, são ineficientes para acabar com o mosquito, só fazem divulgar estatísticas, é obrigação da imprensa cair matando diariamente. Pau nos incompetentes antes que o Aedes acabe com a gente. Para ter melhor noção do perigo, leia o Estadão (25), pág. A16
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CACALO KFOURI - É JORNALISTA. E ATENTO.