Terceiras intenções. Por Josué Machado
TERCEIRAS INTENÇÕES
Josué Machado
Quando certos políticos defendem alguma coisa, deve-se desconfiar dos propósitos ocultos
Sabemos todos que o exercício da política no Brasil consiste em manobrar os negócios públicos para obter vantagens privadas.
Daí, por exemplo, que, se o senador José Renan Vasconcelos Calheiros defendesse uma lei que determina que os santos devem ir para o céu, raras pessoas acreditariam nas boas intenções dele. Nem a “Velhinha de Taubaté”, criada por Luís Fernando Veríssimo, aquela que acreditava em tudo.
Alguma falcatrua estaria por trás da piedosa iniciativa, é claro. Então será sempre lícito e natural perceber intenções ocultas nas propostas vasconcelianas.
…A propósito do rosadinho Geddel, aliás, o ex-presidente Itamar Franco o chamava de “Percevejo de Gabinete”; porque o percevejo, conhecido como fede-fede…
Por isso, quando ele defende com tanto empenho a atualização da lei contra o abuso de autoridade, todos percebem que ele está querendo apenas travar o trabalho do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal, responsáveis por engaiolar políticos corruptos e seus financiadores desinteressados.
O ilibado senador com seus ilibados sequazes também andaram defendendo nas sombras do Congresso a aprovação de lei que perdoaria doadores e receptores do caixa 2. Só se, mesmo envergonhada, valesse daqui pra frente, porque nenhuma lei pode ter efeito retroativo, ninguém ignora.
Até que o STF declarasse ilegal essa improvável anistia voltada para o passado, anos se passariam, e já teríamos novo presidente. Talvez aquela caricatura bananeira do Trump, o tal de Roberto Justus, com o Boçalnato como vice.
Isso porque o Temer Lulia, atolado no lodaçal perfumado do pemedebê e de outros virtuosos apoiadores, não consegue sair do lugar e, se continuar assim, talvez caia do cavalo.
Mas muita gente já falou disso. O que importa é que, da mesma matéria suspeita com que algum gênio do mal construiu Vasconcelos são feitos Jucá, Moreira Franco, Paulinho Argh da Força, Collor, Geddel (o porquinho prático já despedido com atraso), e certos caciques e asseclas de PMDB, PT, PSDB, DEM e outros partidos – alguns já em cana, outros a caminho.
Impossível nominar todos os partidos por falta de espaço.
(A propósito do rosadinho Geddel, aliás, o ex-presidente Itamar Franco o chamava de “Percevejo de Gabinete”; porque o percevejo, conhecido como fede-fede, suga o sangue e demora horrores para desgrudar da presa.)
Enfim, o Vasconcelos está no centro de doze inquéritos encalhados no STF, que tarda, mas também falha; o Jucá, apenas oito.
Pelo jeitão da coisa, ainda vão atuar livres por muito tempo em sua cruzada pelo bem dos eleitores.
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Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.