
Socorro! Por Josué Machado
SOCORRO!
Por Josué Machado
Quando se ouve ou lê que alguém foi “socorrido ao pronto-socorro”, percebe-se que algo vai muito mal, além da vítima e da economia.
Depois dos muito comuns acidentes e outros fatos desastrosos que recheiam o noticiário, ouve-se e até se lê com frequência que “a vítima foi SOCORRIDA AO PRONTO-SOCORRO”.
Sim, dizem a toda hora que alguém foi “SOCORRIDO AO PRONTO-SOCORRO”.
Triste ajuntamento de palavras de mesma raiz que entristece ainda mais o ouvinte das ocorrências infelizes e das malfeitorias variadas.
Parece óbvio que o particípio SOCORRIDO não combina, por pura redundância, com o substantivo SOCORRO do atendimento de urgência.
Sabe-se que em caso de necessidade qualquer pessoa pode ser socorrida.
Simplesmente socorrida. E socorrida POR alguém. Ninguém jamais foi socorrido A ou AO.
Daí que “socorrido AO pronto socorro” não passa de desamparada expressão sem rumo.
O que significa “pronto” no substantivo “pronto-socorro”?
Entre outras coisas, imediato, instantâneo, algo que não tarda.
E “pronto-socorro”?
Hospital ou setor de um hospital onde se presta socorro médico de urgência, explicam os dicionários.
Então, para não ser levemente ridículo, o repórter deve dizer ou escrever que o infeliz necessitado de cuidados médicos de urgência tem ou teve de ser LEVADO ao pronto-socorro para ser medicado. Até ser CONDUZIDO, TRANSPORTADO, CARREGADO ao pronto-socorro. Em último caso, ser ARRASTADO até o pronto-socorro fica menos impróprio do que “socorrido ao pronto-socorro”.
Coisas formais desimportantes como essa, nestes tempos cabeçudos de acirramento dos ânimos, indica apenas que a educação, particularmente o ensino da língua, desabou há muito tempo na maioria das escolas, principalmente públicas. Porque esses repórteres, em geral jovens, devem ter saído da escola há pouco. E apenas repetem como papagaios de bico dourado o que ouvem falar no meio em que trabalham, sem capacidade de fazer uma avaliação crítica de qualquer texto.
Só mesmo um pronto-socorro linguístico.
Socorro!
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Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.