De tabus, maldições e pragas. Coluna Mário Marinho
De tabus, maldições e pragas
COLUNA MÁRIO MARINHO
A imprensa gosta e o torcedor adora um tabu.
Por isso, mais do que se afastar definitivamente da ameaça de rebaixamento, o torcedor do São Paulo vibrou com a goleada sobre o Corinthians 4 a 0, sábado, no Morumbi, não só pela quantidade de gols, mas sim por ter derrubado um tabu: há 13 anos o Tricolor não sabia o que era vencer o Timão em sua casa em jogos do Brasileirão.
O torcedor vibra com a possibilidade de zoar o adversário por conta dos tais tabus.
Nos anos 50-60, o Corinthians sofreu com o Santos. Foram quase 11 anos, para ser mais exato, foram 10,21 anos ou 122,48 meses ou 3.728 dias ou ainda 89.472 horas de sofrimento corintiano.
Dizia-se, naquela época, que em dia de jogo entre os dois, havia um alegre aviso no vestiário santista: “Hoje é dia de bicho garantido”.
O tabu começou na reta final do Campeonato Paulista, quando o Santos venceu o Corinthians por 1 a 0, gol de Dorval, na Vila Belmiro, no dia 22-12-1957, um domingo. E terminou na noite de quarta-feira, 03-06-1968, no Pacaembu, Corinthians 2 a 0 com gols de Paulo Borges e Flávio.
Um detalhe: esse foi o primeiro Corinthians e Santos que assisti ao vivo. Eu havia chegado de Belo Horizonte fazia dois meses para trabalhar no Jornal da Tarde.
Outro detalhe: o tabu foi só em jogos válidos pelo Campeonato Paulista. Nesse período, o Corinthians venceu o Santos por quatro vezes:
27/03/1958 Corinthians 2 x 1 Santos
21/03/1960 Corinthians 2 x 1 Santos
29/03/1961 Corinthians 2 x 0 Santos, estes três pelo torneio Rio-São Paulo e,
16/06/1962 Corinthians 3 x 1 Santos (Taça São Paulo que não era a atual disputada entre juniores).
Outro tormento para os corintianos foram os quase 23 anos sem conquistar o título paulista.
No dia 6 de fevereiro de 1955, o Corinthians conquistou o título de campeão paulista, válido pelo campeonato de 1954, que comemorava o IV Centenário de São Paulo.
A partir dali, o Corinthians mergulhou na escuridão e só voltou a ganhar um título na noite de quinta-feira, 13 de outubro de 1977. Foram 22 anos, 8 meses e 7 dias. Ou 8.268 dias ou 1.184 semanas ou 198.964 horas de muito sofrimento, de muita humilhação.
O Santos também passou por um longo período de vacas magras. Só foi campeão brasileiro em 2002. Como o Brasileiro começou em 1971 foram 31 anos sem levantar a Taça. Durante esse tempo, Pelé jogou por três anos e se despediu sem ganhar o título brasileiro.
Claro, o Santos teve outros título nacionais e até mesmo mundiais, mas não o Brasileirão.
Foram, portanto 31 anos. Ou 372 meses. Ou 11.324 dias. Ou 275.755 horas.
Falando de Brasileirão, os mineiros não atleticanos dizem que o Galo está há 45 anos sem conquistar o título brasileiro. Explica-se: o Atlético venceu o primeiro campeonato brasileiro, em 1971 e depois não foi novamente campeão. Portanto, são 44 anos (quase 45) ou 538 meses ou 16.384 dias Ou, ainda, 393.215 horas.
O Palmeiras também teve seu tempo de sofrimento.
Conquistou o título paulista na noite de uma quarta-feira, 18-08-1976, no Parque Antártica, com o público recorde de 40.283 pagantes, vencendo o XV de Piracicaba por 1 a 0, gol de Jorge Mendonça, de cabeça.
Depois, só voltou a ganhar o título paulista em 12-06-1993 (um sábado, Dia dos Namorados), ao vencer o Corinthians por 4 a 1.
Fazendo as contas, foram 16 anos (mais nove meses) ou 202 meses ou 6.148 dias ou, ainda, 147.552 horas.
Muito sofrimento.
A Ponte Preta, o time mais antigo do Brasil, também passou por um perrengue.
No final de 1969, a Ponte caiu para Segunda Divisão do futebol paulista. Muitos jogadores foram dispensados. Entre eles, o zagueiro Pitico que era um dos ídolos do time.
A mãe dele achou aquilo em desaforo sem tamanho e jogou a praga:
– A Ponte vai ficar 10 anos sem disputar a Primeira Divisão!
Embora tenha batido na trave muitas vezes no período, a Ponte só conseguiu subir no final de 1969 e voltou a disputar o campeonato da Primeira Divisão em 1970.
Esse evento ficou conhecido como a “Praga da Mãe do Pitico”.
Nada comparável aos 132 anos que o Leicester levou para ganhar seu primeiro título inglês, o que aconteceu neste sagrado ano de 2016.
Ou ainda os 108 anos que os torcedores do Cubs esperaram para que seu time ganhasse o campeonato nacional de beisebol dos Estados Unidos.
Conta-se que em 1945, um torcedor do Cubs levou seu bode estimação para assistir a um jogo. Os demais torcedores, incomodados com o fedor do bode, reclamaram à Polícia que acabou por colocar para fora o torcedor e seu inseparável bode.
Ao sair, o torcedor ofendido exclamou em alto e bom som:
– O Cubs jamais será campeão.
Eis que 71 anos depois, o bravo Cubs conquista o título.
Os mais otimistas podem achar que “jamais” tem final: são 71 anos.
Assim, se a sua namorada naquele momento de típico nervosismo feminino disser jamais falará novamente com Você, não se desespere: jamais dura 71 anos.
Se estamos falando de 108 anos, lembro-me de uma outra história.
Lá pelo anos 60 foi lançado um acendedor de fogões a gás que se chamava Magiclick. Sua propaganda dizia: “Potente para 108 anos”.
Registra a história que alguém tentou vender o tal acendedor para o então governador de Minas, Magalhães Pinto, apregoando essa longevidade: 108 anos.
Mineiro, bom de frases, Magalhães perguntou:
– Mas, e depois: tem peça de reposição?
__________________________________________
Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em livros do setor esportivo
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)