Por cima ou por baixo? Por Josué Machado

POR CIMA OU POR BAIXO?

por Josué Machado

Basta lembrar que SOB é na passiva e SOBRE, na ativa.

Alguns repórteres de rádio dizem às vezes que tal motorista causou o acidente “SOBRE os efeitos do álcool”; que alguém agrediu alguém “SOBRE os efeitos de medicamentos”; que a dama cortou o marido em pedacinhos “SOBRE intensa emoção” porque ele repetia demais as piadas.

É triste. Mais ainda porque a preposição adequada para usar em construções como essas, ignorando os chavões, é “SOB”. (E assim aparece também no texto escrito de jornais.)

Porque é “SOB” que indica sujeição a influências e forças irreprimíveis. SOB também indica a ocorrência de fatos por consequência ou por causa de algo, como explicam os dicionários.

“Viam-se conchas e areia fina SOB a água transparente.”

“Percebe-se o contorno da ilha SOB a névoa.”

“A Câmara passou tempo demais SOB o comando de Cunha.”

Alguns ainda estão SOB influência daquele líder exaltado.”

“Agiu SOB o impulso do amor.”

“Os admiráveis congressistas agem sempre SOB o império da lei. Da lei que eles mesmos fazem.”

… São muitos os significados e nuances das duas preposições, mas SOBRE jamais se confunde com SOB — seu oposto.

Quanto a SOBRE, significa entre outras coisas relação de dominância ou de influência; posição acima de; algo preferível a; na parte superior de; em cima de; por cima ou acima de.

“O processo está SOBRE a mesa do juiz.”

“O céu se abre generoso SOBRE o quintal da Ina.”

“Estrelas brilham SOBRE o mar de Guaecá.”

“Renan reina SOBRE o Senado há dois anos, mas parece que faz vinte, tal o estrago.”

São muitos os significados e nuances das duas preposições, mas SOBRE jamais se confunde com SOB — seu oposto.

Então, nos casos narrados com frequência em que alguém fez algo que aparentemente não faria em condições normais, é evidente que os falantes e escribas distraídos devem usar SOB.

Como consolo final, mais um exemplo do uso adequado de SOB:

Nossos admiráveis congressistas agiram SOB a força de intenso respeito ao povo ao aumentar seus próprios salários e conceder a si mesmos vários benefícios de modo que custem – cada um deles – pouco mais de 2 milhões de reais por mês. Sim, cada um deles, R$ 2 milhões por mês.

(Revista “Congresso em Foco, somando salários, regalias e vantagens.)

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JOSUE 2Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.

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