post publicado na página pessoal do autor no Facebook, em 19 de fevereiro de 2016
Ambição de amante, covardia de homem, pequenez de esposa traída, caixa-2 para manter as aparências e a ânsia de vômito pelo uso de um jovem inocente para fins políticos e pecuniários
Fui o primeiro a dar a notícia sobre a gravidez da jornalista. Era repórter político da Folha de São Paulo. Uma fonte me contou que assistira a uma cena constrangedora no dia anterior, no Congresso Nacional. Escutou o senador Fernando Henrique Cardoso aos berros em seu gabinete. E viu a jornalista Mirian Dutra, da Rede Globo, ser expulsa de lá. Também contou que ela estava grávida de Fernando Henrique. Durante aquela briga, os gritos de ambos foram ouvidos até nos corredores. A fuzarca foi tamanha que assessores de FHC, talvez para que não constassem como testemunhas, foram buscar abrigo no gabinete vizinho, do senador Severo Gomes.
O namoro de seis anos entre os dois era público em Brasília. Dona Ruth fora à primeira posse do marido como senador, em 1983. Mas sequer foi à segunda, em 1987. Ela nunca frequentou Brasília e ele pouco ia a São Paulo. Mirian, por sua vez, era repórter política do Jornal Nacional, estrela da Globo, portanto. O fato é que, a partir de determinado momento, Mirian e Fernando (como ela o tratava) passaram a frequentar restaurantes juntos e a chegarem em festinhas de mãos dadas. Ou seja, eram amantes “oficiais”.
Ao saber da gravidez (e da cena de baixaria no Senado), telefonei para Ana Tavares, assessora de imprensa do senador, a fim de checar a história. Ana sempre foi seríssima como assessora, não mente. Ela estava furiosa. Disse que há muito Fernando e Miram estavam separados. E que garantiu que o filho não era dele. Até citou outro político com quem a jornalista estava andando naqueles tempos, provável pai.
Publiquei uma nota. Naqueles dias, estava escalado pelo Matinas Suzuki Jr., diretor de Redação da Folha, para fazer a coluna da Joyce Pascowitch, em férias. A nota apenas informava sobre a maternidade da estrela do jornalismo global. Ora, era uma coluna social. Não citei Fernando Henrique por várias razões. Era assunto da sua esfera privada (ele ainda não era presidente) e havia dúvidas sobre a paternidade. Obviamente aquela nota repercutiu no Congresso, pois todos conheciam o suposto pai.
Alberico Cruz e Souza, então diretor de Jornalismo da Globo, arrumou um exílio dourado para Mirian. Se não me falha a memória, primeiro em Lisboa, como correspondente. Depois na Espanha, no escritório da emissora, onde permaneceria longe do vídeo. A checar se esse exílio começou antes ou depois da criança nascer. O fato é que Fernando Henrique era muito amigo e cúmplice de Alberico no alcovite. Ele namorava uma deputada federal, esposa de um senador. Os dois casais de amantes chegaram a passar finais de semana juntos em Brasília, Mirian e Fernando, Alberico e…
Quando Fernando Henrique virou candidato a Presidência e mudou o nome para FHC, teve que contar sobre Mirian e Tomás a dona Ruth. Uma das versões é que teriam feito a revelação em um sítio perto de Brasília. Dona Ruth teria tido uma síncope. Depois foram acertar os ponteiros em Nova York e Washington. Outra versão dá conta de que o candidato teria feito a revelação nessa viagem para os Estados Unidos. O fato é que, só depois da viagem, ele avisou aos pares que estava tudo ok, que teria uma primeira-dama a seu lado na campanha.
Jamais vazou para a imprensa qual a exata combinação de FHC e Ruth sobre esse tema. Provavelmente ela exigiu que mantivesse o filho em segredo para não dar atestado publico de mulher-traída. Ruth tinha muitas qualidades; nesse episódio, contudo, agiu com pequenez, prejudicando uma criança inocente para que a opinião pública não soubesse que seria, digamos, “corna-mansa”. FHC tem qualidades ainda maiores; conhecia-o bem. Contudo, muitas vezes agiu com covardia. Tanto em atos políticos. Mas principalmente nesse episódio.
Também agiu como um covarde na relação com Mirian. Ora, se os amigos e assessores o alertavam que o filho poderia ser de outro, então por que cargas d’água o senador Fernando Henrique não exigiu desde o início o teste de DNA? Também não o fez mesmo depois de contar o tal segredo para a esposa durante a campanha presidencial. Intriga até hoje compreender o que Mirian teria dito para convencê-lo a pagar pensão por duas décadas sem ter certeza sobre a paternidade. Quais segredos de alcova compartilhavam?
E agora vem o pior. Por conta dessa covardia de não assumir publicamente um filho fora do casamento (supondo que fosse seu), teve que encontrar um “arranjo” secreto para lhe enviar a pensão. Ou seja, caminhos na zona cinzenta, no caixa-2, naquele eufemismo que os mensaleiros chamavam de “contabilidade não-declarada”.
Pelo que soube naquela época, quem ajudava o já presidente FHC a transferir dinheiro para Tomás era o falecido jornalista Fernando Lemos. Inteligente, cordial, totalmente zen, Fernando era o “concunhado”. Ou seja, era casado com a irmã de Mirian, a socióloga Margrit Schmidt. Ele tinha uma empresa de Comunicação.
Não sei por quanto tempo ele ajudou a cunhada Mirian e o presidente FHC a fazer chegar a pensão de Tomás. Nem sei por quais meios, se como pessoa física ou através de sua empresa. Mas sei que agora os petistas estão tentando encontrar supostas provas de “esquemões” tucanos para tentar mostrar que Lula e FHC seriam farinha do mesmo saco.
Faço questão de tecer uma consideração sobre essa operação. Supondo que Fernando Lemos tenha transferido dinheiro para a cunhada por meio da sua empresa, isso não configura prevaricação. Ou seja, nesse caso específico, a transferência da pensão não aparenta ser um negócio, business, no qual a autoridade pública (FHC) favorece uma empresa de forma escusa, e a empresa transfere o suborno para algum laranja-parente, ou uma amante. Nesse caso específico, aparenta ser uma operação essencialmente familiar para esconder um segredo de polichinelo a fim de manter as aparências da primeira-dama Ruth.
A partir de determinado momento, ainda a esclarecer, a pensão passou a ser repassada por meio da Brasif, empresa dirigida pelo ex-senador Jorge Bornhausen, então presidente do PFL, hoje DEM. A Brasif cresceu muito na Era FHC ganhando concessões para a exploração das free-shop dos aeroportos internacionais. A operação, embora a prevaricação ainda não tenha sido caracterizada, em muito se assemelha aos esquemas que Lula montou com a OAS e seu amigo Bunlai para promover reformas no sítio em Atibaia e no duplex no Guarujá.
O tempo passa… eis que um dia aparece a noticia de que, após o falecimento de Ruth, FHC finalmente fizera exame de DNA. Descobrira que o filho não era seu. Hilariante.
Neste momento, os petistas estão buscando provocar tempestade a fim de tentar provar que Lula só fez agora o que FHC também fazia outrora.
O fato é que causa surpresa a coincidência de Mirian ressurgir do auto ostracismo em um momento muito conveniente para Lula. Ela já usou Tomás por muito tempo: para viver 25 anos na Europa; para receber dinheiro de um político poderoso (que não era o pai), para ganhar o ex-amante um apartamento em Barcelona (e outro para o filho). Agora ela (ou eles) estão usando o mesmo Tomás para tentar atingir FHC e amenizar a culpa de Lula em casos ainda não prescritos.
Nessa história, Mirian, FHC, Ruth e, agora, Lula, todos eles são culpados. Pois nenhum deles teve escrúpulos de usar uma criança inocente, Tomás, que agora é um jovem, para alavancar seus próprios interesses políticos e pecuniários.
No caso específico na Mirian Dutra, ou estaria fazendo alguma chantagem com o ex (e sabe-se lá quais segredos guarda dos tempos de alcova). Ou busca cavar um lugar na história bem ao lado de Mirian Cordeiro — aquela que deu entrevista (paga) ao programa eleitoral de Fernando Collor acusando Lula de querer obrigá-la a abortar a filha Luriam.
Haja remédio para enjoo!
Hugo Studart – é jornalista e doutor em História, professor do Ibmec em Brasilia
Excelente texto!! Conexões mais que pertinentes!!
achei que faltou dar uma revisada ortográfica no texto…