Juventude transviada?
Há tempos que leitores me pedem para
escrever sobre o mercado de trabalho. Em comum mostram certa perplexidade,
correta, aliás, com a queda do desemprego observada
no ano passado, em contraste com a estagnação do PIB.
escrever sobre o mercado de trabalho. Em comum mostram certa perplexidade,
correta, aliás, com a queda do desemprego observada
no ano passado, em contraste com a estagnação do PIB.
De acordo com os
dados da Pesquisa Mensal do Emprego (PME), conduzida pelo IBGE em
seis regiões metropolitanas, a taxa de
desemprego recuou de 5,4% em 2013 para 4,8% em 2014. No entanto, tais
estimativas revelam um fato curioso: ao menos nestas regiões a queda do desemprego não esteve associada ao aumento do emprego. Pelo contrário, o emprego caiu levemente em 2014, consistente com o
comportamento do PIB. Trata-se da primeira vez que isto ocorre desde o início da pesquisa; mesmo em 2009, quando houve queda do PIB
(-0,9%) o emprego ainda cresceu moderadamente.
dados da Pesquisa Mensal do Emprego (PME), conduzida pelo IBGE em
seis regiões metropolitanas, a taxa de
desemprego recuou de 5,4% em 2013 para 4,8% em 2014. No entanto, tais
estimativas revelam um fato curioso: ao menos nestas regiões a queda do desemprego não esteve associada ao aumento do emprego. Pelo contrário, o emprego caiu levemente em 2014, consistente com o
comportamento do PIB. Trata-se da primeira vez que isto ocorre desde o início da pesquisa; mesmo em 2009, quando houve queda do PIB
(-0,9%) o emprego ainda cresceu moderadamente.
O que poderia
explicar o mistério da taxa de desemprego em queda
quando o emprego apresenta seu pior desempenho em mais de uma década?
explicar o mistério da taxa de desemprego em queda
quando o emprego apresenta seu pior desempenho em mais de uma década?
Para entendermos
este fenômeno é necessário definir alguns conceitos. O primeiro deles é a População em Idade Ativa (PIA), entendida como todos aqueles
considerados em idade de trabalhar. Segundo a definição da PME, encontram-se na PIA todos
aqueles com 10 ou mais anos de idade, que me deixa algo envergonhado, mas que,
na prática, não faz muita diferença, já que menos de 1%
daqueles entre 10 e 14 anos participam do mercado de trabalho (ainda bem!).
este fenômeno é necessário definir alguns conceitos. O primeiro deles é a População em Idade Ativa (PIA), entendida como todos aqueles
considerados em idade de trabalhar. Segundo a definição da PME, encontram-se na PIA todos
aqueles com 10 ou mais anos de idade, que me deixa algo envergonhado, mas que,
na prática, não faz muita diferença, já que menos de 1%
daqueles entre 10 e 14 anos participam do mercado de trabalho (ainda bem!).
Já a População Economicamente Ativa (PEA) é definida como aqueles que, dentro da
PIA, estão engajados no mercado de trabalho,
seja como empregados, seja em busca de emprego. A relação entre a PEA e a PIA é conhecida como taxa de participação e durante muito tempo oscilou próxima a 57%. Caso desconsideremos a população de 10 a 14 anos, esta grandeza
ficaria em torno de 62%.
PIA, estão engajados no mercado de trabalho,
seja como empregados, seja em busca de emprego. A relação entre a PEA e a PIA é conhecida como taxa de participação e durante muito tempo oscilou próxima a 57%. Caso desconsideremos a população de 10 a 14 anos, esta grandeza
ficaria em torno de 62%.
Assim, para ser
considerado desempregado, o indivíduo tem que fazer parte da PEA. Pessoas que não têm emprego, mas que não estejam procurando trabalho, não são consideradas desempregadas. Este
critério, é bom que se diga, não é uma jabuticaba; ao contrário, trata-se de uma definição internacional.
considerado desempregado, o indivíduo tem que fazer parte da PEA. Pessoas que não têm emprego, mas que não estejam procurando trabalho, não são consideradas desempregadas. Este
critério, é bom que se diga, não é uma jabuticaba; ao contrário, trata-se de uma definição internacional.
Ocorre que, em
particular no ano passado, houve outro desenvolvimento curioso no Brasil,
estreitamente ligado à queda do desemprego. A PEA encolheu, também pela primeira vez desde o início da pesquisa, mas numa proporção ainda maior que a redução do emprego. Enquanto aquele caiu
0,1%, a PEA recuou 0,7%, isto é, algo como 170 mil pessoas nas regiões pesquisadas pelo IBGE decidiram abandonar o mercado de trabalho.
particular no ano passado, houve outro desenvolvimento curioso no Brasil,
estreitamente ligado à queda do desemprego. A PEA encolheu, também pela primeira vez desde o início da pesquisa, mas numa proporção ainda maior que a redução do emprego. Enquanto aquele caiu
0,1%, a PEA recuou 0,7%, isto é, algo como 170 mil pessoas nas regiões pesquisadas pelo IBGE decidiram abandonar o mercado de trabalho.
Posto de outra
forma, a taxa de participação caiu para 56% contra os 57% usuais. Tivesse ela se
mantido em sua média histórica, o desemprego teria aumentado de 4,9% em 2013 para
6,2% em 2014.
forma, a taxa de participação caiu para 56% contra os 57% usuais. Tivesse ela se
mantido em sua média histórica, o desemprego teria aumentado de 4,9% em 2013 para
6,2% em 2014.
A queda mais
pronunciada se deu entre os jovens de 18 a 24 anos: historicamente 70% deles
participavam do mercado de trabalho, mas esta proporção caiu para 65% em 2014 (e já vinha em queda). A hipótese benigna para explicar este fato seria maior dedicação aos estudos, mas ela não parece suficiente para dar conta de todo o fenômeno. Houve aumento da proporção de jovens que nem trabalha, nem
estuda.
pronunciada se deu entre os jovens de 18 a 24 anos: historicamente 70% deles
participavam do mercado de trabalho, mas esta proporção caiu para 65% em 2014 (e já vinha em queda). A hipótese benigna para explicar este fato seria maior dedicação aos estudos, mas ela não parece suficiente para dar conta de todo o fenômeno. Houve aumento da proporção de jovens que nem trabalha, nem
estuda.
Há quem pergunte se este desenvolvimento
pode estar associado ao aumento da rede de proteção social, em particular ao Bolsa-Família, que desestimularia a oferta de trabalho.
pode estar associado ao aumento da rede de proteção social, em particular ao Bolsa-Família, que desestimularia a oferta de trabalho.
Não parece ser o caso, segundo meu amigo e colega Naércio Menezes Filho, que sugere que o aumento da renda do
trabalho dos chefes de família mais pobres retirou a necessidade de jovens buscarem emprego, sem, porém, que estes tenham necessariamente se dedicado ao
estudo.
trabalho dos chefes de família mais pobres retirou a necessidade de jovens buscarem emprego, sem, porém, que estes tenham necessariamente se dedicado ao
estudo.
Se a hipótese do Naércio estiver correta, a desaceleração dos salários que deverá ocorrer este ano interromperia, ou mesmo reverteria, este fenômeno. Neste caso seria questão de tempo para que o desemprego voltasse a subir e, com
ele, a rejeição à presidente, desenvolvimento que lançaria novas dúvidas sobre a firmeza de propósito acerca da nova política econômica.
ele, a rejeição à presidente, desenvolvimento que lançaria novas dúvidas sobre a firmeza de propósito acerca da nova política econômica.
(Publicado 18/Fev/2015)
Alexandre,
Permita-me adicionar uma observação: me parece evidente que a redução na taxa de participação reflete não apenas o aumento da renda das famílias, mas sobretudo a utilização abusiva dos programas sociais e previdenciários de emergência.
Ou seja, a taxa de desemprego sofrerá um duplo impacto na forma de redução da renda das famílias e da implementação de controles mais estritos aos benefícios previdenciários e sociais.
Parte da resposta está no crack e nas cracolândias.
Caríssimo, boa noite.
Acabei de assistir à reprise do programa Painel e cá estou parabenizando-lhe pela participação juntamente com a não menos brilhante Zeina Latif e o bom espírito Raul Velloso.
Acompanho seus comentários na Folha, Triconomics e agora no Call de Abertura. Confesso que como micro-empreendedora da área de serviços em odontologia nem sempre é o que eu gostaria de ouvir rsrsrs mas impossível discordar.
Boa noite, boa semana , parabéns pelo comprometimento e lucidez com a crônica econômica… e pelo charme tb ! rsrs
Aline Sales Loiola
Alex,
Uma pergunta em relação ao último parágrafo do post: ao mesmo tempo que a desaceleração dos salários pode fazer com que os "sustentados" pelo pai de família tenham que voltar ao mercado de trabalho, aumentando a PEA (como você bem disse), ela não pode fazer com que mais gente largue o mercado de trabalho já que o trade-off de estar trabalhando e não estar estudando vai ser maior?
Obrigado.