Recordar é viver
O título se refere a dois aspectos do que vou abordar aqui. Em primeiro lugar porque já mostrei estes dados aqui há não muito tempo. Em segunda lugar ( e muito mais importante), porque vários dos 17 leitores hão de recordar que a política econômica argentina, em particular a política cambial argentina, é (ou foi, já não sei) o paradigma do pessoal analisado pelo “O” no post logo abaixo.
Começo pela evolução da taxa nominal de câmbio na Argentina e no Brasil. Rumos opostos, como se vê. A Argentina não permitiu a valorização da taxa nominal de câmbio. Pelo contrário, enquanto o real se valorizava, o peso se manteve relativamente estável em relação ao dólar até a eclosão da crise. Desde então acumula uma depreciação da ordem de 30%. O real, como dito, se apreciou de forma mais ou menos contínua até agosto de 2008, quando então passou por vigorosa depreciação (quase 45%). A partir daí retomou a trajetória de apreciação, mas ainda (junho de 2010) se encontra cerca de 12% mais devalorizado do que em agosto de 2008.
Quando, porém, ajustamos as taxas nominais de câmbio pelo diferencial de inflação entre cada país (no caso do Brasil usei o INPC; para a Argentina usei o índice de preços calculado pela consultoria Buenos Aires City, já que as estimativas do Indec deixaram, há muito, de ser confiáveis) e a inflação americana (medida pelo PPI, que apresenta uma medida maior de bens comercializáveis internacionalmente) observamos um fenômeno bem distinto.
Entre 2006 e agosto de 2008 as taxas reais de câmbio se apreciaram de forma surpreendentemente similar. No período mais agudo da crise o real se desvalorizou mais, retornando aos níveis do peso apenas no último trimestre de 2009. Desde então o real tem se mantido aproximadamente estável, enquanto o peso, a despeito da desvalorização nominal, tem se apreciado ainda mais com relação ao dólar, ou seja, na primeira metade do ano o peso se apreciou relativamente ao real.
O que aprendemos deste exemplo? Em primeiro lugar (isto deveria ser óbvio, mas é tão frequentemente esquecido que me sinto na obrigação de repetir aqui) que administrar a taxa nominal de câmbio não equivale a determinar a taxa real de câmbio. É possível ter êxito na primeira tarefa (qualquer regime de taxa fixa, ou administrada, consegue o feito); já a segunda é muito mais complicada.
O motivo deveria também ser óbvio: uma política de administração da taxa nominal de câmbio implica perda de autonomia da política monetária (sob grau elevado de mobilidade de capitais). É verdade que é possível retomar certo grau de autonomia por meio da imposição de controles de capitais (sob a suposição crucial que estes sejam efetivos, o que está longe da obviedade que encontramos até agora), mas, isto apenas abre a possibilidade de uso autônomo da política monetária. Caso, mesmo havendo a possibilidade, não se faça uso do instrumento, a inflação continuará desancorada. Em outras palavras, a intervenção não-esterilizada, requerida para determinação da taxa nominal de câmbio, não é consistente com a ancoragem da inflação. O gráfico abaixo – que apenas resume os outros dois – ilustra exatamente isto.
Uma forma equivalente de entender o problema é lembrar que a taxa real de câmbio é uma variável endógena, não uma variável de política econômica. Há variáveis de política econômica que podem afetar (e afetam) a taxa real de câmbio; em particular, a política fiscal pode desempenhar este papel, como argumentado neste blog mais de uma vez: a redução do gasto público, ao permitir atingir o mesmo nível de inflação com uma taxa de juros mais baixa, permitiria depreciação real do câmbio. Mas aí, note-se, não estamos falando de política cambial e sim de política fiscal.
Vale dizer, mesmo que alguém acredite que uma taxa de câmbio mais fraca tenha efeitos sobre o crescimento (eu, por outro lado, defendo que os mesmos fatores que levam a uma taxa de crescimento mais acelerada também implicam uma taxa de câmbio mais depreciada), não se segue que a política apropriada seja ter uma meta para taxa nominal de câmbio (nem para a taxa real de câmbio, o que pode gerar dinâmicas particularmente desagradáveis do lado inflacionário), mas sim adotar um regime de política, principalmente fiscal, que seja consistente com este objetivo. E isto, (17) leitores, não aparece em nenhum texto quermesseiro.
Por curiosidade, como ficariam os gráfico se usassemos a inflação oficial argentina?
Abraços,
Daniel
Bem diferentes Daniel. A inflação oficial acumulada de 2006 a junho de 2010 é 46% (média de 9% ao ano); a estimativa da BAC aponta para um número de 123% (média anual de 19%!).
Grosso modo o câmbio real argentino teria se mantido estável de 2006 para cá.
Muito bom o texto Alex. Aliás, me fala quando eles acertaram na política econômica nos últimos 10 anos ?
Vem pra BH no famoso seminário anual do IBMEC qdo?
Abs,
Marcelo
Alex,
Me desculpa a ingnorancia, mas por que "17 leitores"?
Romes
Alex, perfeito!
Uma verdadeira aula sobre o que acontece na realidade.
Dr Baldlaire, posso comentar ou fico quieto.
Fala que te escuto!!!
Alex,
Achei muito interessante esse artigo do Professor Bresser-Pereira, creio que o mesmo contribui a esse debate.
Déficits, câmbio e crescimento
http://www.economiaetecnologia.ufpr.br/
É, o artigo não tá ruim não, Dr Baldmann. Só acho que você está falando grego para um campiúnico ou um cúspide. Se for um campitrião ou um tricúspide aí você vai dar um nó no cérebro dos coitados.
Mein Gott,
O Bresser é mais deviante que a mulher barbada 🙂
O pior é que o Professor Bresser Pereira deve ter passado boa parte dos últimos anos da vida dele escrevendo sobre apreciacão cambial e déficits em conta corrente, mas ele nunca deve ter movido uma pestana para olhar os dados.
Pois se tivesse olhado, o menestrel da Nove de Julho saberia que nenhum (repito, NENHUM) país não-membro da OPEC nos últimos 50 anos conseguiu se mover do grupo de países de renda média (como o Brasil) para o grupo de países de renda alta (como a Coréia e a Espanha o fizeram) sem incorrer déficits em conta corrente por um período considerável.
Não é questão de opinião. Nem questão de pode ser que sim, pode ser que não. Os fatos são inegáveis e mostram uma realidade 180 graus diferente do que Bresser Pereira descreve. Não que Bresser vá mudar. Os fatos não significam nada para ele.
A despeito de toda evidência ao contrário, para Bresser não é possível crescer com poupanca externa. No mundo real, a evidência sugere exatamente o contrário.
Alex,
Fiquei curioso com os 17 leitores. O contados de visitas ou leitores também conta o pessoal que usa RSS Reader ou semelhante?
O Kleber S. está surtando lá no blog dele.
"Fiquei curioso com os 17 leitores. O contados de visitas ou leitores também conta o pessoal que usa RSS Reader ou semelhante?"
Esta história de 17 leitores é uma brincadeira minha Júlio (meio sem graça, mas é). Eu instalei o Sitemeter em meados de abril e, desde então, tivemos 29.607 visitas (quando bater 30 mil eu aviso). Não quer dizer, é claro, que tivemos 29 mil leitores, mas deve ser mais do que 17.
Mesmo porque, se forem 17 mesmo, eles não teriam qualquer vida pessoal.
Abs
Alex
Caro Professor, observando o gráfico acima Taxas Reais de Câmbio, fiquei espantado
com a desvalorização do real face ao dólar no periodo de Set de 2008 a Set de 2009. Comparativamente o peso argentino não sofreu nenhuma desvalorização no mesmo período!
O Brasil, com reservas de 200 bilhões de dólares, não teria que sofrer menos que a inadimplente Argentina durante a crise do sistema financeiro americano?
Saudações do aluno.
Professor, fiquei intrigado com o gráfico Taxa reais de câmbio. Por que a inadimplente Argentina não sofreu uma corrida para o dólar na crise de Set de 2008?
O Real do Brasil, com todas as suas reservas em dólar, sofreu uma desvalorização significativa!
César:
O câmbio não ter desvalorizado não quer dizer que não tenha havido corrida ao dólar. Quer dizer que na Argentina a taxa de câmbio é administrada. Só isso.
Alguma idéia, de quanto deveria ser a meta de superávit primário de uma política fiscal crível, que permitisse reduzir a taxa de juros?
Prezados,
Vcs comhecem estudos SÉRIOS que tentam apurar rigorosamente o desequilíbrio na taxa de câmbo do real?
Gostaria muito de conhecer as referências na literatura.
Obrigado.
Você pode começar pelo relatório do John Williamson:
http://www.iie.com/publications/interstitial.cfm?ResearchID=1596
"Você pode começar pelo relatório do John Williamson."
bom, pelo texto do Williamson o real está apreciado, mas nao muito. A taxa de equilibrio q ele encontrou é 1,81.
Só que, pelo que eu entendi, isso é para um déficit em conta corrente de em torno de 3% do PIB.
Eu acho que não, mas tem gente que pode argumentar que existe, com esse déficit, um risco de sudden stop.
Ab
uma pergunta, nao relacionada com esse assunto…
todos sabemos que a economia brasileira se tornou mais estavel nos ultimos anos e tem apresentado um crescimento bastante alto recentemente. Por estar acima do potencial, o PIB ( e a atividade , de forma geral) tem sido usado como justificativa (pelo menos uma delas) para o aumento da selic. Sem entrar no merito de subir ou nao o juros, gostaria de saber se deveriamos (e como) levar em conta um provavel aumento da formalidade na economia (o que provocaria um aumento do pib sem necessariamente aumentar o hiato) decorrente da maior estabilidade economica? Seria esse efeito significativo?
abraco
A setor informal é contemplado no PIB.
Careca a Taxa de cambio desvalorizada determina o investimento.
Segundo:O importante é o cambio nominal.
Lucrécio
Zu Pacco:
Ho pamba. Unk go kut tand popo. Eta Wappi, Eta Wappi, Gun-ju-le Tongani.
P.S. Ho panda
"A setor informal é contemplado no PIB"
isso nao e` verdade…ela e contemplada indiretamente.
inclusive para muitos a definicao de economia informal e` justamente `atividades nao contempladas no pib`
Para muitos… Que não sabem o que falam.
isso nao muda o fato da sua afirmacao nao ser verdadeira…
Alex,
sejamos justos. Não podemos culpar a quermesse pelo que o Lucrécio escreve. Na minha opinião, o que ele posta no fórum não é influência dos heterodoxos, mas sim de chá de cogumelo, santo daime ou outra substância altamente alucinógena.
China,Koreia do Sul,Taiwan tem uma taxa de cambio desvalorizada e uma taxa elevada de investimento.
A taxa de câmbio é o fator que determina o investimento.
Lucrécio
Mado Lucota:
Ramba gogo. Ka-goda gogo. Lus ug. Ud bund Dango.
Eta Bara, eta Bara.!
O Lucrécio é um personagem criado por algum economista bem-humorado e com tempo de sobra. Ninguém pode ser tão estúpido.
Minha hipótese é que ele foi criado por orangotangos nas selvas de Bornéu.
Careca eu vou mostrar porque você estar errado.Cambio REAL VALORIZADO provoca deficit nas transações correntes.Argentina tem SUPERAVIT nas transações correntes,isso ja é uma prova de que ela tem um cambio real DESVALORIZADO.
Lucrécio
Sord Pacco:
Zu-ro balu Bara. Tanda yel lus.
Ink-tah!
Ink-tah!
Ka-goda?
balanca comercial Brasil x Argentina
Exp Brasil para Arg $15.6 bn
Exp Arg para Brasil $13.0 bn
Exp BRA/Imp ARG: 34%
Exp Arg/Imp BRA: 9%
Lucrecio falou merda